quinta-feira, 28 de março de 2013

Biryani de camarão


A poesia e a literatura em geral são um problema. Agarram-se a nós e não largam. Estão a ver aquelas melodias, refrões de canções ou linhas soltas que ecoam sem fim nos ouvidos? Como tenho mau ouvido para a música e canto muito mas muito mal sofro dessa mesma maleita com o que vou apanhando dos livros. São linhas soltas que ficam, passagens ou apenas versos de poemas. Desde o post aqui em baixo e da senda do ‘meu’ poema ou de um dos meus poemas preferidos que tenho estes versos da Passagem das Horas de Álvaro de Campos, o eterno poeta da minha adolescência, a matraquear-me nos ouvidos: “Trago dentro do meu coração, /Como num cofre que se não pode fechar de cheio, / Todos os lugares onde estive, / Todos os portos a que cheguei, /Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,/ Ou de tombadilhos, sonhando, / E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.” A evocação de sítios longínquos, sonhos perdidos no tempo, imagens e sabores oníricos. Se um dia for, será, mesmo que a Ásia não conste nos meus planos imediatos. Por enquanto fico-me por um biryani de camarões. ”Viajei por mais terras do que aquelas em que toquei... / Vi mais paisagens do que aquelas em que pus os olhos..” Viaja-se muito na cozinha.

Biryani de camarão

Ingredientes
500 g de camarão congelado
1 cebola
1 dente de alho picado
1 folha de louro
½ colher de chá de canela
½ colher de chá de gengibre
½ colher de chá de pimenta da Jamaica
1 colher de chá de açafrão
3 sementes de cardamomo
Raspa de uma lima
Pimenta preta acabada de moer
Sal
Caju a gosto
Coentros picados
Arroz basmati

Preparação
Descongelar e arranjar os camarões. Cozer o arroz basmati com muita água e um pouco de açafrão. Drenar muito bem depois de cozido e reservar. Picar a cebola e o alho e deixar murchar com um fio de azeite. Juntar a canela, o gengibre, a Pimenta da Jamaica, o açafrão, as sementes de cardamomo e a folha de louro. Misturar bem e adicionar de seguida o camarão com a raspa da lima. Temperar com uma pitada de sal e a pimenta preta. Deixar suar mas não cozinhar demasiado para que fiquem suculentos. Juntar os coentros picados e os cajus e envolver. Num recipiente refractário, pôr o arroz bem escorrido e os camarões em camadas. Com um garfo misturar levemente. Levar ao forno bem quente dez a quinze minutos e servir.


Receita adaptada desta.

A verdade é que a cara deste biryani não é muito diferente da do pilaf algures abaixo mas o aroma e o sabor marcam a diferença. Nada como experimentar os dois.

sábado, 16 de março de 2013

Com as mãos, a pavlova


Se me perguntarem o que reparo com frequência nas pessoas, responderei as mãos. Gosto de mãos de dedos longos, gosto de mãos equilibradas com unhas quase rectas a rematar, nem demasiado longas nem demasiado curtas. Gosto de pessoas que sabem usar as mãos. Usá-las para pegar em objectos, usá-las para escrever, usá-las para abraçar, dar, receber, acarinhar. Embirro com quem usa as mãos como garras, a ganância estampada na forma de se apoderar do mundo, a falta de elegância, de calma, de prazer diminuto em cada coisa que se faz. Gosto muito das mãos. Gosto de mãos que alcançam, as mãos como pontes entre mim e os outros, entre mim e o outro, entre nós. Gosto de mãos que falam quando as palavras são inúteis. As que tocam levemente. E eu que sou de letras e falas, de rompantes sonoros, sou mulher de toques suaves, os toques que uso para consolar vidas amargas impostas por sistemas absurdos que nos violentam humilham, dizimam. São as mesmas mãos que uso para limpar uma lágrima atrevida, e as mesmas que afagam a bicharada de quatro patas, as mesmas que acariciam o manjericão ou a alfazema para passear no olfacto e assim pela leveza de momentos de inexplicável, único, efémero prazer, um tremor tão intenso que poderia ser um orgasmo mas demasiado sumário para que o seja, êxtases breves com que os deuses me presentearam. Estas mãos são as mesmas mãos que me levam cozinha adentro, as que amassam, envolvem, misturam e vestidas de delicadeza se dedicam à alquimia de transformar. É isso cozinhar. Alquimia. Prazer. Êxtase. Transformação. Com as mãos.

As mãos

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas, mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor, cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.

Manuel Alegre


Mini pavlovas de chocolate com frutos vermelhos

Ingredientes:
4 claras de ovos
170 gramas de açúcar de confeiteiro
1 colher de chá de vinagre
1 colher de chá de amido de milho
25 gramas de chocolate em pó
50 gramas de chocolate em barra

Frutos vermelhos a gosto
Iogurte grego natural não açucarado

Preparação:
Pré-aquecer o forno a 150º. Bater as claras em castelo. Quando estiverem firmes, adicionar o açúcar em doses pequenas batendo entre cada adição. Continuar a bater e quando ficarem bem firmes, juntar o vinagre, o amido de milho e o chocolate em pó, com uma espátula,e, por fim, o chocolate em pedaços. Num tabuleiro, deitar colheradas do preparado de claras e levar ao forno uma hora. Findo o tempo, desligar o forno sem abrir. Introduzir uma colher na porta para ficar apenas com uma nesga aberta e deixar arrefecer completamente. 
Servir com iogurte grego e frutos vermelhos frescos. Delicioso. Com as mãos tudo se faz.


Receita inspirada aqui.

Aqui fica a minha participação na iniciativa 'Convidei para jantar' iniciada pelo blogue Anasbageri e nesta 10ª edição a cargo da doce e talentosa CNS do inexcedível Come chocolates, pequena, come chocolates. Um convidado que muito me agradou.