Esta é a altura imprópria para
deixar aqui uma receita de Natal. Estamos todos satisfeitos, satisfeitíssimos,
com as barrigas levemente pesadas e a desejar que isto acabe depressa ou teremos
de comprar roupa um tamanho acima, o Natal até já passou, mas que ocasião mais
adequada para umas azevias bem recheadas com aromas quentes de natividade, de
massa leve e quebradiça e carregadinhas de açúcar e canela?
A história das minhas azevias
remonta a uns anos atrás. É um dos doces de Natal preferidos da minha mãe e
aquele que ela tentava comprar em pastelarias na esperança de encontrar a meia-lua
perfeita, recheada decentemente em qualidade e quantidade e sem massa grossa e
dura. As tentativas foram muitas e quase sempre infrutíferas: recheio em
quantidade insuficiente, recheio mal confeccionado, massa muito grossa e em excesso
para a ervilha de recheio. Algumas vezes acumulavam-se infortúnios numas lapas
informes a que pomposamente nas pastelarias chamavam azevias: massa grossa e
pouco recheio e recheio mal confeccionado. Um dia num Natal passado, nem sei
bem precisar quando, meti na cabeça que havia de pôr fim àquela procura e fazer
eu mesmo umas azevias para a minha mãe com quem aprendi o gosto pela cozinha e
herdei o prazer de uma boa garfada. Procurei receitas, inspirei-me em sítios
vários, segui a intuição e aprumei-me na consecução de um desejo maternal.
Nada, não há nada que não se faça para agradar a uma mãe. A minha merece tudo,
tudinho.
Azevias
Ingredientes
Massa:
500g de farinha de trigo
125g de banha de porco
1 pitada de sal refinado
1 dl de whisky (não tenho aguardente
em casa como mandam as receitas de azevias habitualmente)
Água quente (três ou quatro
colheres de sopa)
Recheio:
400g de grão cozido
200g de açúcar
Raspa de 1 laranja
Dois paus de canela.
3 gemas de ovos
Primeiro o recheio: cozer o grão
na panela de pressão. Usei grão cozido mas levei-o à panela de pressão para
cozer muito bem. Retirar e escorrer. Num passe-vite, passar o grão. Juntar o
açúcar, a raspa da laranja e a canela. Se for necessário, adicionar uma ou duas
colheres de água. Levar a lume brando, mexendo sempre até fazer ponto de
estrada. Retirar do lume e juntar as gemas. Como está muito quente, as gemas
não devem ser incorporadas de uma só vez. Numa tigela à parte, separar as gemas das claras e adicionar às pequenas colheres pequenas do preparado de grão e ir mexendo sempre para os ovos se
misturarem bem. Quando tiver uma quantidade razoável deste preparado podem
então adicionar-se ao restante grão. Levar a lume brando apenas o tempo
suficiente para os ovos cozerem. Retirar do lume e deixar arrefecer. Fiz o recheio
de véspera e reservei no frigorífico.
Para a massa: numa tigela
misturar bem a farinha com o sal e abrir uma cova no meio. Adicionar a banha
derretida e mexer sempre do meio para fora. Adicionar o whisky e, por fim, a água. Deixar a massa descansar uma meia hora.
Numa superfície com farinha, tender bem a massa até que fique fina. Colocar
recheio a gosto, embora não deva ser demasiado para as azevias não abrirem ao
fritar, e passar a massa por cima. Com uma forma redonda ou uma copo ou uma
caneca à falta da primeira, cortar em meias-luas. Fritar em óleo quente,
escorrer e passar por açúcar e canela.