Acordei cedo com uma sensação
estranha. O corpo meio mole mas sem sono. Deixei-me deambular sem grandes
planos excepto um compromisso à tarde que me impossibilitaria um outro. E agora, a qual vou? Esta indecisão usurpou-me a alma e fez-me balançante, incapaz de tomar
decisões, de resolver até as pequenas coisas, dia fora. Ainda de manhã, olhei para o
relógio várias vezes, cronometrando se teria tempo de ir à frutaria, aqui mesmo
em cima, para fazer a tarte proposta esta semana no Dorie às sextas. Teria? Não
teria? E depois a dúvida ainda mais penosa. Faço? Não faço? E ainda: vou fazer
uma caminhada? Não vou? Se a este ponto já estão cansados de me ouvir, imaginem
a minha saturação desta mulher meio frouxa que raramente me visita. Não gosto
dela. Esta indecisão prendia-se como uma outra decisão: fazer dieta. Nada de
muito austero, neste momento não suporto mais austeridade, começo até a odiar a palavra, mas um regime mais
frugal e equilibrado, sem biscoitos e outras iguarias que me têm desgraçado, só vai contribuir para que não perca o fôlego e me sinta melhor. No
meio da indecisão, e depois de ter ido fazer a dita caminhada aqui pelo campo,
entre pinhais e limoeiros, decidi que sim, que participaria, a publicação de fotografias apetitosas aguçou-me o apetite e a curiosidade, e deitei mãos à
obra. Compradas as maçãs e com a rodela de massa folhada no frigorifico, a
consciência um pouco mais leve de me ter ido livrar de calorias por esse mato
fora, iniciei esse processo alquímico e profundamente intuitivo de cozinhar. Quem gosta de cozinhar sabe como é. A proposta era uma tarte de maçã, mas não qualquer tarte, uma Tarte Tatin que requer calma
e temperança, mesmo sem ser muito trabalhosa. O fim de tarde pôs-se ameno e foi
bordejado por um momento doce em excelente companhia e uma chávena de Earl Grey
fumegante. Boa decisão afinal.
Ingredientes:
120 g de açúcar
50 g de margarina
6 maçãs Gala
1 embalagem de massa folhada
refrigerada
Preparação:
Numa frigideira derreter a
margarina. Depois de derretida, juntar o açúcar e continuar no lume. Juntar as
maçãs cortadas em oitavos com a parte convexa para baixo e deixá-las
caramelizar com calma mas sempre sob supervisão. Quando estão suficientemente douradas, não deixei caramelizar
muito, borrifar com Moscatel. Tirar do lume. Aconchegar as maçãs com a massa
folhada e levar ao forno pré-aquecido a 190º cerca de 20 minutos. Assim que estiver pronta virar para
um prato de forma determinada e sem hesitações. Por esta hora já me tinha passado a indecisão e correu muito bem.
Esta tarte pode ser feita com outra fruta e aromas mais criativos.
Hoje o dia não me permitiu grandes variações mas assim mesmo ficou deliciosa. Menos é mais. Hoje pelo menos.
6 comentários:
Cá estarei para a ler. Aqui também.
Sucesso para o novo rebento :)
Um beijinho,
Ilídia
Muito obrigada pelo comentário, Ilídia! É a minha primeira comentadora :)
Não sei se vai ser muito consequente mas veremos.
Beijinhos
Gostei muito da sua nova casa. E da sua tatin, nem se fala :)
Obrigada, Cristina :)
A tatin estava deliciosa.
Há dias assim, em que estamos indecisos com tudo. Mas depois acaba tudo por se resolver naturalmente :)
E depois de uma bela caminhada pelo pinhal sabe bem um docinho. Ficou linda!
Um abraço.
É verdade, estava terrível naquele dia.
Hei-de repetir a tarte com outra fruta.
Beijinhos :)
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