Uma mulher acabada de casar traz consigo
quase todos os sonhos do mundo. Desliza pelos dias fora com a leveza da
felicidade menina, a extensão de momentos indizíveis votados apenas às
mulheres. O casamento é das mulheres. São elas que se transfiguram num ritual iniciático
alimentados de esperanças e ilusões. E julgam nesse efémero momento transcendental
que a vida será não mais do que a poesia que se liberta do breve instante em
que de braço dado com o seu pai, o homem primeiro, desliza de sorriso tímido e
transbordante rumo a uma nova vida. O aroma indefinível da plenitude paira no
ar como um manto protector dos tontos felizes, ingénuos tolos, os que assumem que o resto das
suas vidas não será se não uma extensão dos sorrisos e afectos do dia primeiro.
Uma mulher acabada de casar usa o
sonho do amor como véu e cuida do bouquet de expectativas como o enleio das
flores belas e frágeis. Julga-o eterno.
Uma mulher acabada de casar é um cadinho de esperança de amores partilhados e românticos. E é feliz.
Uma mulher acabada de casar é um cadinho de esperança de amores partilhados e românticos. E é feliz.
Eu como todas as mulheres
acabadas de casar tinha em mim todos os sonhos do mundo e o prazer de o
partilhar com os amigos. Houve almoços e jantares para os mais íntimos, a total
dedicação à cozinha.
Éramos todos à mesa e o dia
estava cinzento. O almoço foi paella. A primeira que terei feito na minha vida
e o primeiro prato que servi como mulher casada, anfitriã no meu castelo de
sonhos. Todas as paellas são desde então a celebração desse ensejo. O amor deve
ser partilhado. Só partilhado é amor.
Paella
Ingredientes
150 g de bacon cortados em
pedaços pequenos
1/2 chouriço de carne (geralmente compro de Seia)
1 cebola grande
Alho picado
200 g de carne de porco cortada
em cubos pequenos
200 g de carne de vaca cortada em
cubos pequenos
Mexilhões (deito a gosto, sem
fazer a menor ideia da quantidade)
Camarão (exactamente como os
mexilhões)
2 copos de arroz para risotto.
Azeite
Sal
Pimenta preta
1 colher de chá de açafrão.
Preparação
Cozer os camarões em bastante
água com sal. Depois de cozidos, retirá-los para arrefecer e reservar a água em
que foram cozidos. Num recipiente para paella ou numa frigideira funda com
pegas redondas que possa ir ao forno, deitar um fio de azeite. Deixar aquecer e
juntar o bacon e o chouriço cortados em pedaços. Quando começar a frigir,
adicionar a cebola picada, o alho e meia folha de louro. Deixar que a cebola
amoleça sem refogar e ganhe os aromas do bacon e do chouriço. Juntar depois as
carnes temperadas levemente com sal, alho picado e pimenta preta e deixar fritar
em lume brando mexendo de vez em quando.
Adicionar os camarões e os
mexilhões congelados. Depois de cozinhados, acrescentar o arroz para risotto,
deixar fritar e envolver muito bem com todos os ingredientes. Juntar a água de
cozer os camarões e o açafrão diluído na água. Para os dois copos de água pus três de água. Continuar em lume brando mas
deve ter-se cuidado e mexer levemente de vez em quando. Provar e rectificar os temperos. Quando o arroz estiver
praticamente cozido, levar ao forno pré-aquecido a 200º. Servir quando estiver
pronto, o arroz deve estar cozido mas um pouco húmido.
Esta receita é o resultado de uma
década de paellas. Já acrescentei outros ingredientes como frango, lulas ou ameijoas.
Já experimentei com outros tipos de arroz, agulha ou carolino, mas com o de
risotto fica infinitamente melhor. Recomendo. Gosto
de fazer mudanças, os ingredientes podem variar um pouco e as porções são
muitas vezes a ‘olho’, a maneira como funciono melhor. Não acrescento nunca
ervilhas, embora a paella original as tenha. Desta vez levou meia malagueta para lhe dar um toque atrevido.
É um dos meus pratos preferidos.
É quente, retemperante, variado e colorido quer pela riqueza dos ingredientes
quer pelo açafrão. É a minha paella.
Esta história e a receita foram escritas para O Bolo da Tia Rosa que está a festejar o primeiro aniversário do blogue. Os meus parabéns para a Mané.
6 comentários:
Que história linda, mas desejo do fundo do coração que esses primeiros desejos se tornem de facto uma realidade. Uma mulher casada pode e deve ser feliz e extender os afectos para o resto da vida.
Adorei tudo, beijinhos.
Obrigada, Maria João :)
As expectativas iniciais são tão bonitas porque são muito ingénuas, a realidade e o dia-a-dia são outras coisas, mas claro que os afectos se estenderam. Felizmente :)
Beijinhos
Que texto lindo Leonor!
E a paella perfeita, para celebrar o amor e a sua partilha.
Um beijinho.
Muito obrigada, Ginja.
Beijinhos :)
Arroz é uma dádiva, é mesmo uma Festa!
Chegou o dia do primeiro aniversário e à mesa estamos 33... perdão, corrijo, estamos 34, com a minha prima Margarida que trouxe o ingrediente para fazermos toda esta festa!
E, decerto que não nos importamos de partilhar com cada um que nos visite!
Se alguma dúvida havia sobre a festividade que o arroz encerra ela ficou completamente dissipada com esta festa. Ver chegar cada uma das participações foi também uma confirmação de dádiva, que agradeço com um rasgado sorriso.
Obrigada, nunca é demais repetir, por partilharem as vossas histórias, por trazerem o vosso arroz e estarem aqui comigo.
Não tenho a noção de quando tempo teremos estes momentos de partilha, não estou inquieta com isso, mas quero que saibam que o balanço deste ano inesperado aqueceu-me o coração e fez-me sentir grata por cada um de vós.
A ordem que aqui colocarei as participações será a ordem de chegada, creio não me estar a esquecer de ninguém - sintam-se completamente à vontade para o referirem , se tal lapso acontecer.
E, por favor sirvam-se… partilhem e saboreiem cada momento neste momento.
A festa é nossa
Vamos, está quase na meia noite, vamos lá saborear todas estas iguarias
Ups!! A Leonor baralhou-se no caminho e só agora está a chegar. Portanto esse lugar que está na mesa, vago, é o dela!
E à mesa ficámos 35!
http://obolodatiarosa.blogspot.pt/2012/04/arroz-e-uma-dadiva-e-mesmo-uma-festa.html
Mil vezes obrigada, Mané :)))
Foi um prazer participar na tua festa e sentar-me à tua mesa com mais 34 convivas :)
Beijinhos muitos.
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