Um manto cinzento e denso, sem réstia
de sol e as letras que tantas vezes vira na época da Guerra Fria, ainda na
televisão a preto e branco a quem o sr. Machado mudava as válvulas de vez em
quando, não me deixavam dúvidas: Moscovo. Na televisão a preto e branco, Moscovo era
sempre o lugar inatingível lá num mundo distante que divida o presente entre a
terra prometida onde todos os homens tinham as mesmas oportunidades, protegidos
por um estado social forte empenhado em munir os seus cidadãos com uma educação
exigente e os que ruborizavam só de ouvir a palavra ‘comunismo’ soar e eclodiam
em iras primárias contra o estado providência. Conheci ambas as espécies. Em
casa dos meus pais sempre se foi de várias cores. Ali estava agora, na cidade
outrora proibida de um país de onde vinham testemunhos que nunca coincidiam.
À chegada esperava-nos um serviço
de táxi representado por uma muralha de frio: algures nos seus quarenta anos de
olhos transparentes, não articulou palavra sem que lhe tivesse dirigida antes e
respondeu sempre de forma lacónica. Incapaz de ceder passagem a alguém que
poderia ser sua mãe e indiferente a malas e a quem as carregava, este ser
gélido poderia ter funcionado como uma antecipação dos dias que se seguiram. Esta
experiência foi exponenciada por um outro factor: os russos além de não rirem
nem sorrirem, não falam línguas estrangeiras e quem se quiser aventurar por
aquelas terras terá também de lidar com o insondável alfabeto cirílico. Muitas
aventuras numa viagem só. O alfabeto cirícilo era útil para muitas coisas
preciosas à sobrevivência em terras de czares e sovietes entre as quais comer.
Perto do hotel havia dois restaurantes que haviam de fazer parte da nossa
rotina. Incapazes de decifrar grandes tratados em cirílico, restou-nos confiar
nos parcos conhecimentos de inglês das empregadas no restaurante uzbeque. Ao
contrário dos outros russos – seriam uzbeques?- eram simpáticas e esforçavam-se
para que nos entendêssemos. A morena ainda arranhava um inglês exíguo, a loura
nem exíguo nem coisa nenhuma e foi pela mão dela que comemos uma das refeições
mais reconfortantes lá no alto do mundo: pilaf.
Ingredientes
Peito de frango (cerca de 500g)
1 iogurte grego (125g)
Sumo de 1 limão
1 colher de café mal cheia de
canela moída
1 colher de chá de açafrão
Pimenta preta
Sal
Pimenta Cayenne
Bacon cortado em bocados pequenos
Arroz basmati
Caldo de carne
Cardamomo (3 sementes)
2 colheres de sopa de cajus (usei uma mistura de cajus e amendoins picantes)
2 colheres de sopa de pistáchios
Salsa picada
Azeite
Preparação
Cortar o frango em pedaços
pequenos. Temperar com um pouco de sal e pimenta preta acabada de moer. Juntar a
canela, o açafrão ( ½ colher de chá) e a pimenta Cayenne. Adicionar o sumo de
limão e o iogurte grego. Marinar uma hora no frigorífico.
Aquecer uma noz pequena de
margarina com um fio de azeite e fritar o arroz até ficar translúcido. Juntar o
dobro da medida do arroz em caldo de carne. Adicionar as sementes de cardamomo
esmagadas, sumo de meio limão e o açafrão (1/2 colher de chá). Escorrer o frango num passador
para retirar o excesso do iogurte.
Aquecer uma frigideira antiaderente
e fritar o bacon até ficar dourado e crocante. Se for necessário, acrescentar um
fio de azeite. Retirar da frigideira e reservar.
Na mesma frigideira fritar o
frango em pequenas porções para que ganhe cor. Aquecer uma frigideira e sem
qualquer gordura torrar os cajus.
Mexer o arroz com um garfo e
envolver o frango, o bacon, a salsa e, por fim, os cajus. Salpicar com os
pistáchios e servir.
Fiquei fã. Gostei da complementaridade de sabores e texturas: o calor da canela, a frescura do limão, o travo cítrico do cardamomo, a textura muito tenra do frango, o crocante dos pistáchios e cajus.
Inspirado nesta receita da Nigella.
14 comentários:
Gosto muito de Pilaf, e muito também da Nigella. Mas ainda mais gostei desta sua memória.
gosto de tudo aqui ... de Pilaf, do blog e do que escreve .. venho sempre e volto todos os dias... inspirador
Foi a primeira receita que fiz da Nigella, Cristina, apareceu-me no Facebook.
A memória veio assim que li 'pilaf'. O que comemos era de borrego, nada a ver com este mas estava óptimo.
Beijinhos :)
Obrigada, nobody :) A minha postagem é um bocado irregular, nem sempre ando inspirada.
Beijinhos e muito obrigada pelas palavras.
Adorei o pilaf com esses ingredientes deve ter um sabor divino.
Bjs
São sabores que se complementam, pelo menos para o meu palato, e que não são nada monótonos, São :)
Beijinhos
Leonor, descreveste tão bem esse mistério, pelo menos para mim, que é Moscovo. E o mais fascinante é que o conseguiste em poucas palavras.
Quanto ao Pilaf, nunca comi e fiquei rendida. Adivinha o que irá ser o almoço cá em casa no Sábado ;)
Tudo magnífico, como sempre.
Beijinho
Maria
Ui, que deve ser tããão bom...
Obrigada, Maria. Em relação a Moscovo ontem vi um trailer de um filme que se passa la e lembrei-me que também o cinema contribuiu para parte desse mistáerio.
O Pilaf é delicioso. Vou fazer variações e depois conto como ficou.
Muitos beijinhos :)
É mesmo, Blonde :)
Beijinho
Tão bom aspecto!!
Que receita deliciosa!
Atribuí-te o Selo do Liebeter Award :D passa no meu blog:
http://1000sabores1000maneiras.blogspot.pt/2013/02/liebster-award.html
Beijinho
Sabe melhor, Filipa :) Obrigada pela visita.
Muito muito obrigada, Tânia, quanta honra e que surpresa tão boa :) Já lá vou espreitar.
Beijinhos
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