John
Donne dizia que 'no man is an island'. Que me perdoem a falta de tradução mas este é
mais um dos casos em que a ‘língua inglesa fica mesmo bem’ como cantam os Clã. Acredito
que não são apenas as pessoas que não são ilhas, embora o sejam a espaços e que
também a espaços precisem de flutuar sós em mares incertos para que a dois se encontrem
nas travessias tumultuosas mas também os países não são metaforicamente
ilhas mesmo que a situação geográfica assim o dite. A nossa história prova-o.
Se fôssemos apenas uma ilha seríamos infinitamente mais pobres e em tudo
terrivelmente infelizes. A mescla de que somos feitos é o condimento mais
corpulento e apetitoso que dá sabor à nossa identidade.
O guia foi peremptório, não gostava de ciganos.
Tranquilo relativamente ao politicamente correcto, nunca se coibiu de o afirmar
repetidamente. Dizia que viviam da mendicidade, do furto e que não queriam
trabalhar. Avisou-nos vezes sem conta para ter cuidado com dinheiro e valores
porque havia muitos ciganos. Não sei onde os via mas durante aquela semana na
Bulgária vi dois ou três.
Além dos ciganos, o guia também não gostava de turcos
e também o afirmava sem qualquer inibição. Dizia que não, não gostava, tinham
destruído a cultura e o país ao longo dos cinco séculos em que ocuparam o território
búlgaro. Perfeitamente compreensível e aceitável. Dos gregos nada disse e teceu
louvores aos russos que os tinham ajudado a livrar-se dos turcos e que agora
deixavam os rublos obesos nas praias da admirável costa do Mar Negro.
Não falhava nunca. Todos os dias ao almoço e ao jantar,
juntamente com Snezhanka, uma salada de iogurte e pepino, fazia parte da
ementa. O tomate era delicioso como não comia já há muito tempo, o mesmo para a
cebola e o pepino. Esta salada tão simples de tomate, pepino, queijo sirene,
semelhante ao Feta grego, era o contraponto ideal aos dias escaldantes. Fresca
e simples, deixava que o sabor dos vegetais fosse rei.
E vem isto porque na verdade nenhum país é uma
ilha. Cinco anos de ocupação turca e a vizinhança da Grécia cunharam uma
culinária semelhante em alguns pratos e comum aos três países. Deliciosa. Os
búlgaros clamam para si a invenção do iogurte que por cá se diz grego mas as analogias
são evidentes. Muitos vegetais, saladas parecidas, beringelas e curgetes
recheadas. Quase me tornava vegetariana nas férias sem qualquer esforço.
Salada de tomate e pepino com queijo Feta
Ingredientes:
Tomates
Pepinos
Cebolas
Queijo Feta
Azeite
Vinagre
Orégãos
Preparação:
Numa tigela descascar os tomates e os pepinos.
Tirar as sementes do tomate e cortar ambos em cubos. Juntar a cebola em rodelas
e o queijo Feta em pedaços. Temperar com azeite e vinagre e orégãos.
Esta salada é uma recriação da ubíqua Shopska que
acompanhou todas as refeições nas minhas férias búlgaras. Troquei o queijo Sirene por Feta, o óleo de girassol usado na gastronomia búlgara por azeite
virgem e acrescentei-lhe os orégãos que facilmente imagino substituídos por manjericão.
O resultado foi bom, mas admito que as recriações nem sempre superam o original.
Os legumes búlgaros são insuperáveis e o sabor de férias também.