Chegada a minha vez esperava-me o
médico que já vira várias vezes, de sorriso e braços abertos, é bom ter médicos
que nos tratam bem, e a quem confiei várias vezes a tarefa de supervisionar o
meu peso. De todas as confissões anteriores havia uma que se me tinha escapado,
talvez porque nunca a considerei muito importante ou apenas porque a tenha
sentido uma parte de mim, tão intrínseca como o cabelo selvagem ou os modos
abruptos quando o humor se me enche como maré alta e rebenta em vagas furiosas.
E sem saber por quê acabei por lhe dizer Sabe,
doutor, é que eu gosto muito de cozinhar. Ele riu-se e respondeu Mas pode, cozinhar pode… ao que concluí Pois, não posso é comer. Ora acontece, como já terei confessado por aí, que cozinhar e o prazer da mesa andam de mãos dadas
para mim, e admito que tenho uma certa desconfiança por quem depenica comida e
a olha o prato à sua frente com ar de enfado ou náusea. Gente estranha.
Associo sempre o prazer de comer aos prazeres da vida. Acontece ainda que se
tiver convidados cá em casa tenho um medo incontrolável de que a comida não
chegue e que os comensais se entreolhem com o estômago a reclamar e mentalmente
me dirijam impropérios por tamanha frugalidade ou avareza ou incapacidade de
calcular quantidades. Outras vezes não é apenas a quantidade que se me ataca, é
a diversidade. Detesto refeições monótonas em dias de festa, refeições onde não
há escolha e não se pode saltitar entre os folhadinhos de farinheira e os
triângulos de chouriço ou entre a mousse de abacate e o bolo de chocolate. Foi
exactamente por isto que depois de ter decidido a ementa de aniversário da
minha mãe, atendendo aos seus pedidos e gostos e que cumpriria escrupulosamente, achei que faltaria algo doce para
mesclar com o sabor meio acre do café no fim da refeição. Deitei mãos à obra e depois de umas
voltas pela net para inspiração, nada, nos dias que correm, é totalmente
inovador, lembrei-me de fazer brigadeiros de coco. O prazer de cozinhar que me
cutucou outra vez e a necessidade vital da escolha e da diversidade. E
provei-os evidentemente. Eu avisei que estava tudo ligado.
Brigadeiros de coco
Ingredientes
1 ½ lata de leite condensado
2 colheres de sopa de margarina
200 g de coco + coco para envolver os
brigadeiros.
1 cálice pequeno de whisky
Preparação
Num tacho deitar o leite condensado,
o coco e a margarina. Levar a lume brando mexendo sempre para não deixar
queimar e envolver bem os ingredientes. Juntar o whisky e continuar a mexer até
fazer estrada no tacho.
Deitar de seguida num recipiente e deixar
arrefecer. Depois de morno ou frio enrolar bolinhas e envolvê-las no coco ralado. Levar
ao frigorífico. Uma meia hora antes de servir retirar do frigorífico para reganhar sabor e melhorar a textura.
Todos comeram e ninguém se queixou.
Todos comeram e ninguém se queixou.