São vinte e três horas. Dia longo como quase todos os de trabalho. Tarefas que parecem
reproduzir-se e, contudo, um imenso sentimento de culpa como se estivesse a
prevaricar, a procrastinar, a negligenciar os meus deveres profissionais. Quem
é professor sabe exactamente do que falo. Um peso que não nos larga nunca ou
raramente, coisas para fazer, trinta pares de olhos em cima de nós de noventa em noventa minutos, escrutínio sem tréguas, e um desgaste que me leva a pensar muitas vezes quando saio da
escola pela hora do almoço que não aguentarei mais do que mais dez anos no
ensino. Não, não tenho força, penso. E não é só flexibilidade e sagacidade,
rapidez de raciocínio, capacidade de reacção imediata e de adaptação constante,
é esse o meu dia-a-dia. É mesmo força física para aguentar tanta solicitação, a
pressão, a energia das hormonas que não param. E tenho medo. E raiva. Medo de
perder a dignidade e raiva porque caso me reforme antes da idade a que me
obrigam ficarei reduzida a meia dúzia de tostões. Estes dias de inverno ajudam
a sentimentos negros, não bastasse já o que nos rodeia. Nestes dias, a casa é a
minha ostra. Escondida lá dentro, aqueço-me, lareira sempre a crepitar, apetece-me quase sempre um copo de vinho tinto, luxo ao qual não me posso dar, apesar de o dizerem saudável. Resta-me o
conforto de uma sopa quente e saborosa. Mas até da sopa me canso. Legumes e
legumes, nada de batatas, massas, leguminosas que a genética odeia-me e insiste
em lembrar-me que não, não posso comer o que me passa pela cabeça. Desta vez aventurei-me
num creme de cogumelos com tomilho e cogumelos variados inteiros para quebrar a monotonia, são também eles que fazem esta sopa especial. Não foi a primeira vez mas esta é a receita que resulta
melhor. O Inverno há-de passar e os dez anos ainda vêm longe. Vamos ao creme de
cogumelos.
Creme de cogumelos com tomilho
Ingredientes
200 g de cogumelos Portobello
2 courgettes médias
1 cebola roxa
3 dentes de alho
1 embalagem de mistura de
cogumelos congelados
1 colher de sopa de iogurte grego
natural sem açúcar ou natas espessas (opcional)
1 fio de azeite
Tomilho fresco a gosto
Sal
Preparação
Lavar bem os legumes. Cortar os
cogumelos em quartos, as courgettes em pedaços pequenos e a cebola em rodelas
grossas.
Numa panela de pressão deitar
primeiro a cebola e depois os restantes legumes. Adicionar os dentes de alho, o
tomilho, e regar com um fio de azeite. Deixar suar em lume médio. Quando os
legumes e os cogumelos começarem a murchar, acrescentar um pouco de água, sal,
e fechar a panela. Levar ao lume cerca de 20 minutos. Passar com a varinha mágica
até ficar cremoso, acrescentado água se for necessário, rectificar o tempero e
juntar a mistura de cogumelos congelados inteiros. Deixar ferver até os
cogumelos estarem cozidos. Servir com uma colher comedida de iogurte grego natural
ou natas e salpicar com tomilho.
Se se perguntarem porque é que as natas estão com um forma tão irregular é porque aqui em casa pratica-se a liberdade de expressão. Até nas sopas e na comida.
14 comentários:
Um creme de cogumelos não cura tudo, mas apazigua muita coisa ;)
Um beijo,
Ilídia
PS: Como te percebo. Até na questão da genética ;)
É verdade, Ilídia :)
Só males que nos atormentam. É uma miséria não poder comer tudo sempre.
Beijinhos
A genética também insiste em atacar deste lado. A sopa apetece e fugir da escola também.
Bêjos
Hummmm, que bom ar tem esta sopa!Vou experimentar, mas sem panela de pressão, que é instrumento que não possuo ;) Obrigada querida Leonor.
Uma delicia.
Bjs, Susana
Eu adoro cogumelos, adorei o aspecto da tua sopa
Quanto aos 10 aos, não sofras por antecedência...
E às vezes é tão difícil contrariá-la, Loca :(
Bêjos.
Experimenta, Patrícia :) Adoro os cogumelos lá pelo meio com sabores diferentes. A panela de pressão foi só para ser mais rápido. Se for feito sem ela acho que os sabores até se apuram. E se não tiver as natas ou o iogurte não perde nada.
Beijinhos
Obrigada, Susana :)
Obrigada, Marisa. Tens razão, não se deve sofrer por antecipação. Isto é mesmo nos dias em que saio exausta e me ataca o desespero :)
Beijinhos
Um creme bem saboroso e reconfortante, maravilhoso. Adoro estes cremes aveludados. Sai uamtacinha dessas para mim, por favor! ;)
Beijinho.
Obrigada, Célio. Mesmo reconfortante. Comi no dia seguinte sem natas para não abusar e fica igualmente boa :)
Beijinho
Leonor,
Como te entendo :) muitas vezes falta-nos a racionalidade suficiente, porque o coração fala mais alto. Os dias de inverno são longos, escuros e frios, convidam a sentimentos cinzentos, mas o sol começa a espreitar e novos dias surgirão.
Mas enquanto o inverno ainda anda por cá, vou deliciar-me com esta sopinha que adorei. Gosto imenso de cogumelos e este creme parece-me delicioso.
Também sou apologista da liberdade de expressão :) mesmo das natas :)
Bjns
Isabel
Os dias já estão a melhorar, Isabel, felizmente, mas ainda há tempo para esta sopinha. Experimenta que vais gostar. Já tinha feito creme de cogumelos antes mas este é o que mais me convence.
Viva a liberdade de expressão ;)
Beijinhos
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