domingo, 6 de janeiro de 2013

Cheesecake de lima e uma fase na vida


Todos temos fases na vida e fases de vida. Estas minhas fases não são períodos de transformação exterior, não correspondem a mudanças de vida, não se podem balizar por acontecimentos extrínsecos casuais. Todas elas confluem num único factor: viajar. Passei pela fase cubana, desde Agosto último que ando na fase irlandesa, terei passado de forma mais breve pela fase cabo-verdiana também e sei que me esperará mais uma destas fases assim eu possa pegar em mim e dar uma volta fora de portas ou ter projecto para isso.
Estas fases caracterizam-se por manias que se acumulam mas todas elas se resumem a: um, viajar; dois, ler muitos autores das nacionalidades dos países eleitos; três, soar o alarme sempre que me surgem palavras escritas ou faladas desses mesmos locais; quatro, incessantes buscas online e quinto, ouvir música dos mesmos países quase obsessivamente. Esta última aplica-se com muita parcimónia à minha fase irlandesa mas cumpriu-se com uma disciplina reverenda na fase cubana.
A minha fase cubana terá sido a mais forte. Começou na passagem de ano em que voei pela primeira vez para a pérola das Caraíbas, cumpriu-se no dia em que sozinha vi  Buena Vista Social Club , e digo sozinha porque estava duplamente sozinha, desamparadamente só, estendeu-se até uns anos depois com uma semana em Havana e foi-se perpetuando na música que ouvia sem parar, livros e livros de autores cubanos que fui lendo avidamente e memórias daquela semana de Junho, mais intensa que a de Dezembro porque os sítios nunca são apenas os sítios, os sítios são o que nós somos naquele momento naqueles sítios e as pessoas que a nosso lado calcorreiam os mesmos trilhos. Regresso muitas vezes a Cuba. Regresso-lhe sempre que passo a mão pela hortelã que cresce desmedida, que a fragrância do rum Havana Club Añejo Blanco se solta de um mojito e sempre que da janela da alma ouço Ibrahim Ferrer a cantar 'Dos Gardenias' e ouço-o muitas vezes.
A minha fase mais duradoura não sei se se deixará epitetar por fase. Começou desde que me conheço, foi-me dada pelos hábitos gastronómicos da minha avó paterna, prolonga-se na deliciosa feijoada à brasileira pela mão exímia da minha mãe e todos os dias me lembro dela. É trunfa superlativa, as ancas largas e as coxas grossas. É o meu pai que me falta. É o António Carlos Jobim a cantarolar Olha que coisa mais linda, a Bethânia com o 'Reconvexo' e os olhos cristalinos de Chico Buarque passeando-se no Calçadão. São os livros que recebo por mão amiga e carinhosa daquele lado do mar. Imortalizou-se no dia de Março em que sobrevoei o Rio de Janeiro e renasce em todos os momentos em que solto a alma e em que a fragrância da lima se liberta. Cozinhar raramente é transformar ingredientes apenas. Viaja-se muito também. Encontramo-nos muito também.

Cheesecake de lima

Ingredientes
1 lata de leite condensado
2 pacotes de queijo-creme para barrar (usei Philadelphia)
1 iogurte grego natural sem ser açucarado
6 folhas de gelatina
Sumo e raspa de 3 limas médias + raspa para decorar

Base:
2 pacotes de bolacha de aveia
120 g de margarina

Preparação
Demolhar as folhas de gelatina em água fria e reservar. Para a base: amolecer a margarina. Numa picadora ou robot de cozinha picar as bolachas até ficar uma areia grossa. Juntar a margarina e misturar tudo muito bem. Deitar numa forma de mola e com os dedos criar uma camada uniforme. Reservar. Bater o leite condensado com a raspa das limas, o queijo creme e o iogurte. Derreter as folhas de gelatina em água a ferver (cerca de duas colheres de sopa), deixar arrefecer um pouco mexendo sempre, adicionar o sumo das limas e juntar ao preparado de leite condensado, queijo creme e iogurte. Deitar por cima da base de bolacha e polvilhar com raspa de lima a gosto. Levar ao frigorífico de um dia para o outro.
Para aumentar a receita, pôr mais um iogurte e mais uma folha de gelatina. 


Este cheesecake, além de me levar a viajar, está no meu top de doces preferidos. O contraste do sabor cítrico e perfumado da lima com a cremosidade da textura faz as minhas delícias. Gosto de diversidade. Exactamente como na vida.

14 comentários:

Pami Sami disse...

Como eu bem conheço essas fases, ou pancas como eu lhes chamo... Fazem nos sentir bem, avivam-nos a alma :)
Assim como o teu cheese cake, que ficou com um ar yummy!

Isabel Figueiredo disse...

Olá,
tens razão, é na diversidade que nós crescemos como pessoas melhores.
Este cheesecake também faria as minhas delícias, por isso roubo a receita :)
Bjns
Isabel
http://emocaoascolheradas.blogspot.pt/

Leonor disse...

Pancas, é isso mesmo. São elas que nos vão dando alento também :)
Gosto muito deste cheesecake, gosto dos sabores contrastantes.
Beijinhos

Leonor disse...

Força, Isabel, rouba à vontade. Conta como ficou depois. Optei por não pôr muita lima para o sabor não se sobrepor aos outros mas pode sempre pôr-se mais.
Beijinho :)

Maria disse...

Leonor, minha querida, e incrivel como me deleito com os teus textos. E tambem, como me identifico com algumas passagens. Ja te tinha dito isto???
O cheesecake esta maravilhoso. Vou, de certezinha, fazer.
Beijinho e bom ano
Maria

Ivone Mendes da Silva disse...

Ora aqui está um post sobre o qual posso opinar com conhecimento de causa,isto é com duas fatias de conhecimento. Uma delícia, Leonor:)

Leonor disse...

Minha querida Maria, os teus comentários são sempre tão carinhosos :) Muitos beijinhos. Experimenta que vais gostar.

Leonor disse...

Obrigada, Ivone :) Ainda pensei escrever o post sobre o nosso almoço mas já tinha este alinhavado na minha cabeça.
Beijinhos

Su Delícia disse...

Acho que todos nos passamos por várias fases.. acho até que às vezes temos duas ou três em conflito, e por isso nos perguntamos o que se passa connosco...
Não conhecia o blogue, mas gostei imenso! já adicionei aos favoritos!
Aproveito para fazer um convite, em jeito de pedido, para fazer uma visita no meu ;)
E se gostar não esquecer de adicionar!!!
http://sudelicia.blogspot.pt

São Ribeiro disse...

Sou louca por cheesecake e com lima ainda não fiz.
O teu esta maravilhoso...
bjs

Leonor disse...

Olá, Susana, bem-vinda :) É, as fases às vezes sobrepõem-se.
O blogue já vai para a barra lateral.

Beijinhos

Leonor disse...

Eu estava um bocado receosa por causa do ácido mas correu muito bem e já fiz mais do que uma vez. Podes pôr mais lima mas eu gosto assim, nenhuma sabor se sobrepõe ao outro.

Beijinhos

Vera Ferraz disse...

Que bom!! Fiquei encantada e com vontade de saltar para a cozinha! Tem andado um deserto de inspiração para estes lados que de repente e não fosse a hora, teria um resultado delicioso!

Leonor disse...

O único problema é que deve ficar no frigorífico umas horas grandes, eu faço de um dia para o outro.
É fresco e bom para contrapor a uma refeição mais pesada.